Na
obra De rerum natura (Da natureza
das coisas) Lucrécio (Titus Lucrecius Carus, 94 a.C. - 55 a.C.) desenvolve o raciocínio
mostrando que alguma coisa deve permanecer constante no mundo. Pois se todas
as coisas pudessem ser gastas e destruídas, o mundo já teria sido gasto. No
entanto, o mundo é sempre o mesmo. Essas coisas indestrutíveis são os átomos,
que não podem ser modificados ou destruídos, e que constituem todas as coisas
da natureza. Lucrécio analisa os fenômenos, e seus argumentos - apesar de não
conhecer tantos fatos quantos se conhece hoje - são do mesmo tipo dos que se
poderia usar numa aula de física. Ele mostra que existem coisas que se acredita
que são materiais, mas não se vê. O próprio ar, apesar de invisível, produz
fenômenos.
Também não podemos ver os
odores, mas deve haver algo que sai dos corpos aromáticos e chega até nós. E
essas coisas são materiais, já que os odores não escapam por um frasco bem
fechado. Essas coisas são tão rarefeitas que são invisíveis; os elementos
dessas coisas, indestrutíveis, devem ser invisíveis também. Eles não têm as
propriedades das coisas materiais. Suas únicas propriedades são o tamanho,
forma e peso (ou o que é a massa para nós). A cor e o odor não seriam
propriedades dos átomos, mas sensações produzidas pelas formas dos átomos que
atingem os nossos órgãos dos sentidos.
Lucrécio concebia os aromas
como sendo devidos a átomos que escapam dos corpos e chegam até nós - do mesmo
modo como nós concebemos a propagação de moléculas aromáticas através do ar.
Os átomos não podem ser vistos,
mas seus efeitos algumas vezes sim; por exemplo, quando um raio de luz penetra
num quarto escuro onde existe poeira. As partículas de poeira ficam dançando no
raio de luz, mesmo se o ar estiver parado; e esse movimento da poeira é devido
aos átomos. Isso de fato ocorre no movimento browniano.
A estrutura da matéria
E, no entanto, as coisas não
são totalmente unidas, e preenchidas por corpos (sólidos): há também o vazio
nas coisas. Se não houvesse o vazio (na natureza), os objetos não poderiam se
mover; pois aquilo, que é propriedade dos corpos, impedir e segurar, estaria
presente em todos os lugares, em todos os instantes; nada, portanto, poderia se
mover, pois nenhuma coisa cederia seu lugar.
E ainda, por mais sólidas que
se pense serem as coisas, você pode apreender disto que direi que elas são
corpos rarefeitos: nas rochas e cavernas a umidade da água atravessa tudo, e
todas as coisas choram numerosas gotas; o alimento se distribui pelo corpo
inteiro dos seres vivos... E porque veríamos que uma coisa pode ser mais pesada
do que outra e, no entanto possuindo o mesmo tamanho?... ...quando uma coisa é
mais leve, e do mesmo tamanho, isso prova que ela possui mais vazios dentro de
si. (De rerum natura, I - 329).
Vazio e átomos
Como a possibilidade de
existência do vácuo ou vazio era muito combatida, Lucrécio cita um caso para
provar sua possibilidade:
Se dois corpos grandes se
chocam e novamente se afastam rapidamente, o ar deveria preencher todo o vazio
que se forma entre os corpos. No entanto, por mais rápidas que sejam as
correntes de ar, o espaço inteiro não pode ser preenchido em um momento...
(Idem, I - 382).
Após muitos argumentos,
Lucrécio estabelece que o universo contenha apenas o vazio e átomos em
movimento, sendo os átomos partículas indivisíveis e muito pequenas. Ele tenta
então explicar fenômenos como os trovões, raios, ventos, e a força dos imãs,
baseado em suas hipóteses. Chega mesmo a descrever a estrutura da alma.
Admite a existência de uma alma
nas pessoas, mas essa alma é apenas uma parte do corpo, constituída, por átomos
diferentes, outra espécie de matéria: além do corpo material, teríamos outro
constituído por átomos diferentes, e essa alma é que transmitiria ordens aos
membros e sensações ao coração.