quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aromas e átomos


Na obra  De rerum natura (Da natureza das coisas) Lucrécio (Titus Lucrecius Carus, 94 a.C. - 55 a.C.) desenvolve o raciocínio mostrando que alguma coisa deve permanecer constante no mundo. Pois se todas as coisas pudessem ser gastas e destruídas, o mundo já teria sido gasto. No entanto, o mundo é sempre o mesmo. Essas coisas indestrutíveis são os átomos, que não podem ser modificados ou destruídos, e que constituem todas as coisas da natureza. Lucrécio analisa os fenômenos, e seus argumentos - apesar de não conhecer tantos fatos quantos se conhece hoje - são do mesmo tipo dos que se poderia usar numa aula de física. Ele mostra que existem coisas que se acredita que são materiais, mas não se vê. O próprio ar, apesar de invisível, produz fenômenos.
   Também não podemos ver os odores, mas deve haver algo que sai dos corpos aromáticos e chega até nós. E essas coisas são materiais, já que os odores não escapam por um frasco bem fechado. Essas coisas são tão rarefeitas que são invisíveis; os elementos dessas coisas, indestrutíveis, devem ser invisíveis também. Eles não têm as propriedades das coisas materiais. Suas únicas propriedades são o tamanho, forma e peso (ou o que é a massa para nós). A cor e o odor não seriam propriedades dos átomos, mas sensações produzidas pelas formas dos átomos que atingem os nossos órgãos dos sentidos.
   Lucrécio concebia os aromas como sendo devidos a átomos que escapam dos corpos e chegam até nós - do mesmo modo como nós concebemos a propagação de moléculas aromáticas através do ar.
   Os átomos não podem ser vistos, mas seus efeitos algumas vezes sim; por exemplo, quando um raio de luz penetra num quarto escuro onde existe poeira. As partículas de poeira ficam dançando no raio de luz, mesmo se o ar estiver parado; e esse movimento da poeira é devido aos átomos. Isso de fato ocorre no movimento browniano.
A estrutura da matéria
   E, no entanto, as coisas não são totalmente unidas, e preenchidas por corpos (sólidos): há também o vazio nas coisas. Se não houvesse o vazio (na natureza), os objetos não poderiam se mover; pois aquilo, que é propriedade dos corpos, impedir e segurar, estaria presente em todos os lugares, em todos os instantes; nada, portanto, poderia se mover, pois nenhuma coisa cederia seu lugar.
   E ainda, por mais sólidas que se pense serem as coisas, você pode apreender disto que direi que elas são corpos rarefeitos: nas rochas e cavernas a umidade da água atravessa tudo, e todas as coisas choram numerosas gotas; o alimento se distribui pelo corpo inteiro dos seres vivos... E porque veríamos que uma coisa pode ser mais pesada do que outra e, no entanto possuindo o mesmo tamanho?... ...quando uma coisa é mais leve, e do mesmo tamanho, isso prova que ela possui mais vazios dentro de si. (De rerum natura, I - 329).
Vazio e átomos
   Como a possibilidade de existência do vácuo ou vazio era muito combatida, Lucrécio cita um caso para provar sua possibilidade:
   Se dois corpos grandes se chocam e novamente se afastam rapidamente, o ar deveria preencher todo o vazio que se forma entre os corpos. No entanto, por mais rápidas que sejam as correntes de ar, o espaço inteiro não pode ser preenchido em um momento... (Idem, I - 382).
   Após muitos argumentos, Lucrécio estabelece que o universo contenha apenas o vazio e átomos em movimento, sendo os átomos partículas indivisíveis e muito pequenas. Ele tenta então explicar fenômenos como os trovões, raios, ventos, e a força dos imãs, baseado em suas hipóteses. Chega mesmo a descrever a estrutura da alma.
   Admite a existência de uma alma nas pessoas, mas essa alma é apenas uma parte do corpo, constituída, por átomos diferentes, outra espécie de matéria: além do corpo material, teríamos outro constituído por átomos diferentes, e essa alma é que transmitiria ordens aos membros e sensações ao coração.

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