Os historiadores citam o século VI a.C. como
o milagroso século de Pitágoras, Buda, Confúcio e Lao -Tsé e dos filósofos
jônicos. Pois, foi nesta época que ocorreu o desabrochar helênico ou febre
jônica.
A grande revolução do pensamento
humano começou e as cidades-estados da Jônia, na costa oriental do mar Egeu,
adquiriram renome por suas tradições intelectuais. Foi neste lugar do espaço e
no tempo que foi o momento da elevação do espírito humano. O momento quando
iniciou a grande aventura com as explicações
racionais para os fenômenos
naturais, que, em pouco mais de dois milênios, transformaria a
espécie humana mais radicalmente do que havia sido feito pela evolução nos 200 milênios anteriores.
O nascimento da democracia
Antes do séc. VI a.C., Atenas e outras
cidades gregas eram governadas por monarquias. Mas os conflitos levaram à
tomada do poder pelos ricos proprietários e comerciantes. Essas oligarquias
ficaram caracterizadas por profundas instabilidades, pois os direitos
políticos, sociais e civis não eram compartilhados pela maioria da população.
Neste momento, indivíduos ambiciosos se aproveitaram para tomar o poder e instituir
a tirania. Assim, uma cidade após a outra passou a ser governada por tiranos.
Os tiranos muitas vezes cortejavam o povo
com doações de terras e obras públicas. A maioria dos tiranos procurava
governar de uma maneira sensata e com uma dose de populismo para garantir a
estabilidade política, mas alguns eram brutais.
Na maioria das cidades gregas, a reação
usual contra a convulsão social era a tirania. Mas no ano de 508 a.C., Atenas inovou. A
população insurgiu contra a tirania sanguinária da época e convidou Clístenes,
que estava exilado, para governar Atenas.
Clístenes,
embora fosse da elite grega, compreendeu que não podia governar como um tirano,
pois o seu poder emanava do povo. Assim, de alguma forma, o povo deveria
participar efetivamente do seu governo.
Em um discurso inspirado em uma encosta pedregosa
junto à Acrópole, Clístenes adotou a constituição da época de Sólon, mas com
algumas modificações extremamente importantes no sistema político de Atenas.
Todas as classes passaram a ter direito a
voto nas decisões importante. Os Atenienses se agrupavam sem preconceitos de origem
familiar ou de riqueza. Todos eram iguais perante a lei.
Os
Atenienses deixaram de ser organizados por clãs, passaram a ser organizados em
distritos, demos. Isto é, a genealogia
foi substituída pela topografia e a lealdade dos cidadãos aos seus grupos
familiares passou para a comunidade. Foram feitas outras modificações
importantes que não vou mencioná-las no momento.
O
momento atual
Quando as cidades jônicas foram dominadas
pelos persas, os talentosos escultores, poetas, arquitetos e filósofos
se refugiaram em Atenas, que se tornou um centro de artes e cultura. Assim, o
ambiente em Atenas se tornou propício para o surgimento da democracia.
No momento atual, a tecnologia propiciou o
desenvolvimento de novos meios de comunicação. Os meios tradicionais de comunicação
como os jornais, as revistas, as emissoras de rádios e de televisão estão
enfrentando a forte concorrência das redes sociais como meio de transmissão de
informações.
Essas redes, ao contrário das mídias
tradicionais, não são facilmente controláveis pelos governos ou grupos de
empresários.
Para entender o momento atual, podemos fazer
uma analogia com o comportamento das formigas operárias. Elas não têm uma líder
que comanda as suas ações coletivas. Quando uma das formigas descobre uma
presa, ela compartilha esta informação com as que estão mais próximas, mas elas
estão “conectadas” e a informação se espalha rapidamente, em pouco tempo, um “batalhão” de formigas ataca a presa. Podemos afirmar que a líder das formigas é formada pela vontade coletiva. A líder das formigas é virtual.
As pessoas em geral e, principalmente, os jovens compartilham piadas
sobre políticos, charges, mensagens, fotos e vídeos. Essas informações se
propagam e, com o passar do tempo, os efeitos dos péssimos serviços públicos, do
descontrole dos gastos públicos e consequente alta da inflação, da inépcia dos
governantes e seus assessores vão se acumulando na memória das pessoas bem
informadas.
Neste momento, um acréscimo de vinte centavos na passagem de ônibus e uma
convocação através das redes sociais é suficiente para desencadear uma onda de
manifestações populares através de todo o país.
Sem uma compreensão clara dos acontecimentos
e ainda atônitos, os políticos começam a agir tomando algumas medidas
populistas e convocando reuniões para mostrar que estão trabalhando. Essas
reuniões parecem mais uma confraternização, pois o número de pessoas, ou melhor,
o número de ministros ou de secretários é assustador. As pessoas não cabem na
foto.
Os constrangimentos dos políticos, a ineficácia
dos partidos para representar o povo, a necessidade de mostrar trabalho com o adiamento do recesso dos
deputados e senadores. Esses fatos indicam, claramente, que as redes sociais estão provocando
o surgimento de um novo tipo de democracia, isto é, a democracia interativa. Mas
os políticos não se deram conta disso. Eles se queixam da falta de líderes para dialogar, não entenderam que os líderes das manifestações são formados pela vontade coletiva. As pessoas estão replicando um processo coletivo similar ao das formigas. Com as redes sociais, a humanidade está entrando na era das lideranças virtuais.
No próximo texto, eu vou dizer como poderá
ser o sistema político da democracia interativa.