As aulas de física precisam ser elaboradas tendo em mente que é
necessário valorizar o entendimento dos conceitos e princípios físicos. É
necessário, também, levar em conta a evolução do conhecimento, pois há uma
contradição muito grande com o espírito científico, quando as conclusões, as
ideias e os conceitos da física são ensinados por um método peremptório como se
fossem verdades gravadas a fogo numa pedra no alto da montanha.
Se uma aula deixar o aluno com impressões
do tipo “A Ciência diz...” com certeza não ensinou ciência. Esse tipo de
abordagem é um equívoco pedagógico, pois não apenas reduz o conhecimento a um
ato de memorização, mas também relega ao esquecimento que a ciência e o
conhecimento, em geral, estão sempre se corrigindo e evoluindo.
Outro aspecto a ser considerado
é que o ensino dos princípios físicos deve estimular a imaginação dos
estudantes, pois esta é a diferença fundamental entre uma criança e um animal
de estimação. Um garoto chuta uma bola e consegue imaginar um gol de placa e,
no auge do entusiasmo com a brincadeira, chega a “ouvir” o grito da torcida. Um
gatinho quando brinca com uma bola não deve estar vendo ou imaginando um rato.
A bola serve apenas para o gatinho aperfeiçoar sua técnica de sobrevivência.
Para induzir a imaginação nos
estudante, a transmissão do conhecimento sobre os fenômenos físicos deve incorporar
a dinâmica da descoberta, onde cada conclusão ou resposta provoca o surgimento
de novas indagações. Com este propósito em mente, deve-se aplicar a história da
física ao ensino, pois ensinar física e, provavelmente, outras ciências
naturais usando um método histórico, não é apenas filosoficamente correto, é
muito mais interessante e pedagógico.
Outra preocupação é evitar
explicações que podem levar à compreensão errônea dos fenômenos físicos. O Guia Para o Ensino da Física de Arnold B.
Arons*, da Universidade de Washington, relata as conclusões obtidas com
observações sistemáticas e pesquisas sobre aprendizagem e compreensão dos
conceitos físicos, modelos e linhas de raciocínio. As suas recomendações são
extremamente úteis, principalmente, as identificações das abordagens que levam
os estudantes a interpretações equivocadas dos conceitos físicos.
Os conceitos devem ser
apresentados de maneira clara e direta. Por
exemplo, ao definir grandezas físicas deve-se evitar frases do tipo “Você está habituado a lidar com várias
grandezas...” ou definições vagas do tipo “Grandeza é tudo aquilo que é suscetível de ser medido ou...”. Sem
esclarecer o que realmente é uma grandeza física.
Ao invés disso, deve-se mostrar
como as grandezas físicas surgem. Quando
observamos um novo fenômeno, precisamos descobrir algumas propriedades para
descrever de maneira quantitativa as suas características. Essas
propriedades fundamentais são chamadas de grandezas
físicas.
Por exemplo, para o fenômeno,
conhecido como som, ficar perfeitamente caracterizado
é necessário identificar as suas propriedades fundamentais (ou grandezas
físicas) conhecidas como frequência (medida da altura do som), intensidade (medida da amplitude do som), e timbre (conhecido como a “cor” do som, pois permite distinguir sons emitidos por diferentes instrumentos).
Observe que o ritmo
também é “suscetível de ser medido”,
mas não é uma grandeza física que caracteriza o fenômeno som.
[*Arnold
B. Arons, A Guide To Introductory Physics
Teaching, JOHN WILEY & SONS, N.Y. (1990).]
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