quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A imaginação e a aula de física



As aulas de física precisam ser elaboradas tendo em mente que é necessário valorizar o entendimento dos conceitos e princípios físicos. É necessário, também, levar em conta a evolução do conhecimento, pois há uma contradição muito grande com o espírito científico, quando as conclusões, as ideias e os conceitos da física são ensinados por um método peremptório como se fossem verdades gravadas a fogo numa pedra no alto da montanha.
   Se uma aula deixar o aluno com impressões do tipo “A Ciência diz...” com certeza não ensinou ciência. Esse tipo de abordagem é um equívoco pedagógico, pois não apenas reduz o conhecimento a um ato de memorização, mas também relega ao esquecimento que a ciência e o conhecimento, em geral, estão sempre se corrigindo e evoluindo.
   Outro aspecto a ser considerado é que o ensino dos princípios físicos deve estimular a imaginação dos estudantes, pois esta é a diferença fundamental entre uma criança e um animal de estimação. Um garoto chuta uma bola e consegue imaginar um gol de placa e, no auge do entusiasmo com a brincadeira, chega a “ouvir” o grito da torcida. Um gatinho quando brinca com uma bola não deve estar vendo ou imaginando um rato. A bola serve apenas para o gatinho aperfeiçoar sua técnica de sobrevivência.
   Para induzir a imaginação nos estudante, a transmissão do conhecimento sobre os fenômenos físicos deve incorporar a dinâmica da descoberta, onde cada conclusão ou resposta provoca o surgimento de novas indagações. Com este propósito em mente, deve-se aplicar a história da física ao ensino, pois ensinar física e, provavelmente, outras ciências naturais usando um método histórico, não é apenas filosoficamente correto, é muito mais interessante e pedagógico.
  Outra preocupação é evitar explicações que podem levar à compreensão errônea dos fenômenos físicos.  O Guia Para o Ensino da Física de Arnold B. Arons*, da Universidade de Washington, relata as conclusões obtidas com observações sistemáticas e pesquisas sobre aprendizagem e compreensão dos conceitos físicos, modelos e linhas de raciocínio. As suas recomendações são extremamente úteis, principalmente, as identificações das abordagens que levam os estudantes a interpretações equivocadas dos conceitos físicos.
   Os conceitos devem ser apresentados de maneira clara e direta. Por exemplo, ao definir grandezas físicas deve-se evitar frases do tipo “Você está habituado a lidar com várias grandezas...” ou definições vagas do tipo “Grandeza é tudo aquilo que é suscetível de ser medido ou...”. Sem esclarecer o que realmente é uma grandeza física.
   Ao invés disso, deve-se mostrar como as grandezas físicas surgem. Quando observamos um novo fenômeno, precisamos descobrir algumas propriedades para descrever de maneira quantitativa as suas características. Essas propriedades fundamentais são chamadas de grandezas físicas.
   Por exemplo, para o fenômeno, conhecido como som, ficar perfeitamente caracterizado é necessário identificar as suas propriedades fundamentais (ou grandezas físicas) conhecidas como frequência (medida da altura do som), intensidade (medida da amplitude do som), e timbre (conhecido como a “cor” do som, pois permite distinguir sons emitidos por diferentes instrumentos).
   Observe que o ritmo também é “suscetível de ser medido”, mas não é uma grandeza física que caracteriza o fenômeno som.
          [*Arnold B. Arons, A Guide To Introductory Physics Teaching
             JOHN WILEY & SONS, N.Y.   (1990).]

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