No século dezenove,
os cientistas trabalharam com a hipótese da existência do éter por duas razões:
Primeira, parecia não haver
alternativa, se a luz é constituída por ondas transversais;
Segunda, o éter era o meio
de referência (ponto de referência) em relação ao qual a velocidade da luz é
medida.
(Esta
possibilidade é similar ao que ocorre com o som, pois usualmente se determina a
velocidade do som em relação ao ar, que é o meio de propagação das ondas
sonoras).
A segunda razão é extremamente importante,
pois sem um meio de referência, a ideia de movimento se torna vaga e os
conceitos fundamentais, que impulsionaram o desenvolvimento da física do século
dezenove, ficam estremecidos.
Para explicar a necessidade de um referencial
para definir o movimento, suponha um passageiro em um trem que pode se mover,
ao longo de uma linha perfeitamente reta, com velocidade uniforme e sem
qualquer vibração.
Usualmente, um passageiro pode perceber o
movimento pelas vibrações, ou pelos efeitos inerciais quando a velocidade
aumenta ou diminui, ou nas curvas. Todavia, com o trem se movendo uniformemente
e sem vibrações, os efeitos inerciais são eliminados, os métodos usuais para se
perceber o movimento são ineficientes.
Agora, imagine que há uma janela no trem
através da qual o passageiro pode ver outro trem que se move em uma linha
paralela. Há também uma janela no outro trem e um passageiro de um dos trens
olha o passageiro do outro trem. Neste caso, um passageiro pode ligar para o
celular do outro e perguntar, “Estou em movimento?”.
O passageiro, que recebe a ligação, olha e
verifica que o passageiro do outro trem está imóvel e responde “Não, você está
parado.” Mas se o passageiro saltar pela janela, ele certamente morrerá imediatamente,
pois ambos os trens estão se movendo no mesmo sentido com uma velocidade de 100km/h, em relação a um observador que está parado na estação.
Como ambos os trens estão se movendo no
mesmo sentido e com a mesma velocidade, a posição de um em relação ao outro não
se altera, e o passageiro de um dos trens parece estar parado em relação ao
outro.
Se houvesse uma janela no outro lado, em
cada um dos trens, os passageiros de ambos os trens poderiam olhar para a
paisagem e observar que ela estaria se movendo para trás dos trens. Como
supomos automaticamente que a paisagem não se move, a conclusão óbvia seria de
que o trem está em movimento, embora ele não pareça estar se movendo.
Outra possibilidade seria o trem B estar
parado, enquanto o trem A se move para frente com uma velocidade de 10km/h. Ou ainda, o trem A pode estar se movendo para frente à 5km/h enquanto o trem B se
move para trás à 5km/h. Ambos os trens podem estar se movendo para frente: o trem A
se move a 100km/h e o trem B se move a 90km/h. Há ainda uma infinidade de movimentos possíveis em relação
à superfície da Terra.
Devido a um hábito muito antigo, as pessoas
tendem a minimizar a importância do movimento de um trem em relação ao outro.
Elas consideram o movimento em relação à superfície da Terra como sendo o
movimento “real”.
Mas isto é verdade? Suponha que um
passageiro em um trem que se move a 100km/h deixa cair uma moeda.
Este passageiro observa a moeda cair em linha reta na vertical até atingir o
assoalho do trem. Uma pessoa parada na estação (supondo a lateral do vagão do
trem transparente), observando o trem passar, verifica que a moeda tem dois
tipos de movimento.
Ela cai com uma velocidade acelerada devido
à força gravitacional e se move para frente acompanhando o movimento do trem. O
efeito resultante dos dois movimentos é uma trajetória parabólica observada
pela pessoa parada na estação.
Conclusão, a moeda se move em trajetória retilínea
em relação ao trem, e ao longo de uma parábola em relação à superfície da
Terra. Neste caso qual é o movimento “real”? A parábola? O passageiro no trem que deixou a moeda cair
pode estar propenso a acreditar que embora ele pareça estar parado, ele
“realmente” está se movendo a 100km/h. Mas ele também pode não acreditar que a moeda que ele vê
cair em linha reta possa estar “realmente” se movendo ao longo de uma parábola.
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